Quando o muro caiu, nós vivíamos em Roma. A sua demolição, que antecedeu a queda do sistema soviético, foi saudada como nova era de felicidade no mundo – menos para alguns. Já se sabia que houvera poderosa conspiração internacional entre Reagan e o papa Wojtyla, envolvendo o Banco Ambrosiano, a C.I.A. e o Solidarinosc, com a cumplicidade de Gobartchev, contra os países socialistas. O resultado é conhecido: o sistema soviético se desfez e o homem da glasnost e da perestróika pôde sentir-se realizado, como garoto-propaganda de pizzas e de bolsas Louis Vuitton, nos meios de comunicação dos Estados Unidos.
Ainda nestes dias, os chineses descobriram um trecho considerável da Grande Muralha, que ficou oculto durante séculos. Era uma proteção contra os inimigos. As cidades medievais eram cercadas de muros, como ainda podem ser vistos. Um longo muro separa o México dos Estados Unidos e outro, de grandes proporções, separa Israel dos territórios palestinos. A sua construção, queiram ou não, obedece às mesmas razões pelas quais os alemães do leste erigiram o seu. No Rio, pretendem levantar cercas, a fim de controlar as favelas. Os novos e ricos condomínios urbanos brasileiros se fazem cercar de muralhas, protegidas eletronicamente, com sentinelas atentas e armadas, de trecho a trecho, imitando a famosa Linha Maginot, que os alemães desdenharam, ao invadir a França pela Bélgica. Estamos todos cercados de muros, circulamos nas cidades dentro de veículos – que são muralhas de aço blindado; no alto dos edifícios, em seus corredores, nos elevadores, as câmaras vigiam, como as seteiras das antigas muralhas. As muralhas mais sólidas e impenetráveis são as ocultas, que separam os homens ricos dos homens pobres. Um longo e invisível muro – semelhante à linha de Leibniz – passa pelas ruas, penetra as igrejas e ladeia os pontos, ou seja, as pessoas, deixando, em campos separados, por mais próximos pareçam estar, uns homens e os outros.
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