Qual será a solução final para o problema palestino? No encontro dos nazistas, em janeiro de 1942, decidiu-se que o trabalho forçado, as câmaras de gás e os fornos crematórios seriam meios para reduzir o número de judeus, mas não para a solução final, que viria depois da vitória na guerra. Não podemos aceitar a ideia de que Israel pretenda a aniquilação total dos palestinos, depois dos meios que vem utilizando para reduzir o seu número, mediante as operações militares, com o uso de fósforo branco e o bloqueio continuado há anos, que impede a ajuda humanitária ao imenso gueto de Gaza.
Os judeus são um grande povo, e os judeus de Israel podem ser restituídos ao humanismo hebraico, a que o mundo deve poderosa contribuição – junto a outros humanismos, como os das religiões asiáticas, da fulgurante inteligência grega e, não por último, o do Islã. Esses governantes de Israel, por mais motivos tenham para repudiar a analogia, fazem lembrar aqueles que quiseram eliminar os judeus da História. Todos os seus atos levam à suspeita de que sua razão esteja contaminada pelo maniqueísmo de “eles, ou nós”. Para que vivam, é o que sua conduta revela, não aceitam conviver com o povo palestino a seu lado.
Há em Israel – e essa é uma esperança do mundo – os que contestam a política agressiva de seu governo. Soldados que se queixam do doutrinamento para o ódio, jornalistas que denunciam, todos os dias, o absurdo da guerra contra os palestinos, sábios e religiosos que sofrem ao ver a transformação de alguns de seus jovens em sádicos e alucinados guerreiros. Antes de sua “solução final” para o problema palestino, se é que a projetam, os israelenses terão que afrontar o duro conflito entre os dois lados de sua própria gente. Como os humanistas não se encontram armados, não é difícil prever o resultado.
O ataque aos navios que levavam ajuda humanitária a Gaza é mais um dos episódios que dilaceram a consciência do mundo. Todos nós somos culpados, porque não vemos, nos palestinos – e com a mesma solidariedade – o sofrimento que vimos um dia nos sobreviventes de Auschwitz-Birkenau, Treblinka, Dachau e Lodz.
Os palestinos, como qualquer outro povo, têm o direito de sobreviver e, tal como os judeus do Gueto de Varsóvia, o dever de resistir. Não há muitas evidências para a esperança, mas as cenas do ataque à frota internacional humanitária, que começam a ser divulgadas, reclamam a reação dos povos e dos governos contra Tel Aviv, e exigem sanções exemplares. Melhor seria que os próprios israelenses impusessem já a seus governantes o mínimo de lucidez para entenderem que os judeus fazem parte de uma só humanidade, e dela não se podem excluir, mediante pretendida diferença histórica ou religiosa. Não há, diante da vida – e de Deus para os que nele creem – judeus ou palestinos, árabes ou chineses. Há seres humanos. O Estado Militar de Israel não conta com Jeová. Conta com os Estados Unidos e suas próprias armas, entre elas, as nucleares.
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